Conceito: alívio imediato para a dor de criar.

Eis que um professor de planejamento das aulas de Bootcamp da Miami Ad School um dia me disse: “Se tiveres tu um conceito definido, mergulha de cabeça, véio”.
Em outras palavras, ele estava dando a dica de ouro, quase um Prozac pro problema todo da angústia de criar: o tal do CONCEITO.
Todo mundo fala de conceito e aposto como 50% das pessoas não sabem exatamente o que isso significa.
Conceito é: o que você quer dizer nessa propaganda. O conceito, o centro, o “tudo”.
Essa é a parte difícil. Resolvido ele, o conceito, aí falar de ideias é mole pro gato.
Um conceito bom já dá margem pra umas trezentas ideias: umas 290 ruins, umas 10 boas, umas 5 viáveis, umas 3 aprováveis (afinal, temos o planejamento, a verba, o cliente, etc.).
Mas chegar nesse conceito é o que causa a angústia.
Tente fazer o caminho reverso de um anúncio que você tenha visto ultimamente e procure descobrir qual conceito fez o criativo chegar naquela ideia.
Exemplo Matusalém de um bom conceito é o “Não tem preço” da Mastercard. Maldita Visa com esses mexicaninhos cantando: “coisa triste”. Conceito BOM mesmo é o da Mastercard. Conceito que, por acaso, também é um slogan do &@#@%$&.
Quando assisti à palestra da dupla de criação da McCann Erickson no primeiro Fest Up da minha vida, sobre essa campanha, eu ainda era adolescente. A campanha tá aí até hoje, funcionou em todos os países e culturas e É o melhor exemplo de um conceito bem criado.
Quer uma prova? Crie um roteiro de TV com este conceito, com o tema que quiser: mulher, futebol, família. Não vai doer nada, né? A parte mais difícil tá pronta.
Agora experimenta pegar uma campanha numa sexta-feira depois do almoço e definir “aquele conceito” incontestável. Aaah. Aí dói.
E, falando em “incontestável”... Pra começo de conversa um bom conceito tem que passar por algumas provas de fogo e cada uma delas é praticamente uma unha arrancada a alicate. Quase uma prova quádrupla do Rotary, só que cada pergunta pode jogar seu conceito brilhante diretamente para o lixo.
Suponhamos que você tenha definido um conceito maravilhoso para um produto:
1- É verdade? É a mais pura verdade? As pessoas reconhecem como verdade? Porque dizer que o produto é o melhor não cola. O mais gostoso? Relativo. O único? Hmmm tá querendo enganar quem? Tem que dizer uma verdade sobre o produto, serviço ou sobre a vida. Mas algo que as pessoas leiam ou ouçam e digam: “ããããh é verdade”. (Mais informações nas obras de Bakthin, sobre linguística e conhecimento prévio)
2- Não é igual ao conceito do fulano, da agência X pro produto Y? Cheque no Google, por favor. É o mínimo que você pode fazer pela sua reputação.
3- É fácil de entender? Seus colegas entenderam? Sua mãe entenderia? Sua empregada?!?!?! O público-alvo, que tal? Pense nele com um carinho todo especial. Porque é PRA ELE que a campanha vai primeiro e não pro seu portfólio, ok?
4- Você consegue, de cara, pensar em 3 ideias criativas com esse mesmo conceito?
Passou pela prova? Que belezinha! Agora é desenvolver as peças seguindo o roteiro como se fosse uma doutrina.
Chame seu dupla de criação. Conversem horas. Pesquisem horas, vejam referências. Rabisquem um monte de coisas sem noção. Guardem alguns Desencannes que venham a surgir no meio do caminho. Você vai começar a ver os frutos de um bom conceito aflorando em ideias diferentes e AÍ SIM, vai entender porque um conceito bom é realmente o alívio de todas as angústias de criar.
Finalize com hipoglós e pronto!
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