O Donut

Esses dias comi um Donut. Ai tava nervosa, estressada, sei lá. Cai de cabeça no donut. Foi inevitável. Nem lembro o que me aconteceu, mas lembro que era motivo o suficiente pra ir em direção àquela geladeira maldita. Bendita em gostosura, mas maldita em calorias, colesterol e tudo aquilo que os magrelos adoram reparar nos alimentos gostosos. Aliás, muito bonito, não? Coitadinhos dos donutzinhos, pirulitos, bolinhos, e chocolates. Quando o assunto é dieta ninguém lembra que eles são gostosos, só lembra que eles engordam. Mas quando alguém termina com o namorado, toma uma demissão ou se dá mal em alguma coisa, não pensa duas vezes antes de atacar uma caixa das mais apetitosas de bombons de cereja. Hipocrisia!

Bom, mas esquece os bombons, meu donut não era de chocolate. Era de creme. Aaaah, creme. Cremoso, gostoso, viscoso. Você morde e ele praticamente envolve sua língua em uma espécie de furacão de sabor. Poucas coisas são como o creme. Chega a ser obsceno. Irresistível, maligno.

O donut olha pra você. Ele conversa com você.
Tem uma relação ali. Não é apenas morder, mastigar, engolir. É uma questão de afeto. Carinho, amor. É um donut. Você vai sofrer quando ele acabar. Vai. E mesmo que compre outro, não vai ser a mesma coisa. Mesmo que você sinta prazer, o primeiro donut a gente nunca esquece.
Mas, é assim. O fim, uma hora, tem que chegar, e você tem que dar a última mordida.

Os restinhos do açúcar ainda vão ficar no seu queixo. Alguém vai rir de você, mas você não liga. Limpa devagarzinho, deixa cair uma lágrima de saudade, e guarda só pra você a lembrança de um donut que já te fez feliz.

Então você lembra da carinha dele, contente e feliz, saindo da geladeira.
Sorrindo pra você quando você deu a primeira mordida.
Vocês juntos se divertindo quando ele deixou cair creme no seu suéter.
Você vai lembrar dele quanto tocar aquela música.
Vai evitar passar na frente da geladeira dos donuts.
Angústia. Você vai sonhar com ele. Dói! Dói muito.
Vai sentir um gelo na barriga toda vez que ouvir palavras como pizza hut, nut, connecticut.
Você só queria o seu donut de volta.

Vai acabar se tornando um pobre gordinho a vagar. Talvez você perca peso. Talvez você perca a vontade de viver. Será preciso ter muita força de vontade, dar a volta por cima. Dar uma guinada na vida. Sair pra conhecer gente. Comer umas batatas fritas, se divertir com um brigadeirinho de vez em quando. Talvez até role um beijinho.

Com o tempo você vai esquecer seu doce e verdadeiro amor pelo donut.
Já não vai ter tanto receio em falar dele, até de olhar pra outros como ele.
Quem sabe você não se aproxime da geladeira dos donuts de novo.
Escolha um que lhe pareça mais simpático.
Talvez você coma um outro donut numa boa.
É, vamos lá! A vida é curta, temos que viver intensamente, cada minuto, cada mordida.

Dessa vez de Doce de leite. Hmmmmmm, doce de leite. Cremoso, Gostoso, Viscoso.
Fudeu!